Nádia de Toni nadia.detoni@pioneiro.com
Jéssica, 15 anos, é filha de pai traficante e mãe usuária de cocaína. Nasceu em uma família pobre da periferia. Começou a fumar maconha aos 10 anos. Por causa do vício, parou de estudar aos 12. Ano passado, iniciou um tratamento para dependência química, mas desistiu um mês depois. Grávida de quatro meses, Jéssica está de volta à mesma clínica há um mês.
Eu comecei roubando cigarro da minha mãe. Depois, conheci a maconha. Com 13 anos, fui numa festa com uma amiga. Ela tem dinheiro, sabe, daí gastamos uns 150, 200 pila em cocaína. Cheirei lá na festa mesmo. E assim começou. Sabe, meu pai era traficante, daí puxou tudo aquilo. Sempre foi mais fácil conseguir a droga. Meu pai morreu na cadeia. Agora meu padrasto tá preso por tráfico. Tem meus tios que são traficantes, meu primo, os namorados das minhas irmãs... Então, tudo vem dessa convivência. O crack eu conheci quando tive uma briga feia com a minha mãe. Fui lá pro meu primo, daí ele pediu se eu queria experimentar alguma coisa mais forte. Daí eu tava chorando, tava muito nervosa e falei: ‘vô me jogar de vez’. Daí eu experimentei. Nossa! Tu fica muito louco, a sensação é de que todos os problemas somem. Mas aí, depois que passa, vem a frustração. Tu lembra que tu vendeu tuas coisas pra fumar. Nossa! Daí, sabe o que tu faz? Vai lá, vende mais uma coisa e fuma para esquecer disso. E assim tu vai indo até um ponto em que tu não tem mais nada, ninguém mais confia em ti. É tu e tu. Não tem essa de fumar uma pedra só. Tu passa dois, três dias dando estouros (fumando). Uma vez me prostitui por R$ 50 pra comprar crack. O problema não é só a droga, o problema é... ai, esqueci a palavra, como é... a, sim, o comportamento. O problema é o comportamento que faz usar droga. Já fiquei internada ano passado. Mas quem é que, na minha idade, vai querer ficar sem rádio, sem música, sem festa, sem namorar, sem nada? Imagina! Eu fugi. Agora tô grávida e minha mãe me largou de mão. Daí eu pensei que não quero dar pro meu filho a vida que eu levo. Tô começando tratamento e quero sair de cara limpa. Todas as manhãs me prometo: ‘só por hoje não vou usar droga’.
SÉRIE DO JORNAL PIONEIRO PUBLICADA EM ABRIL DE 2009
Eu comecei roubando cigarro da minha mãe. Depois, conheci a maconha. Com 13 anos, fui numa festa com uma amiga. Ela tem dinheiro, sabe, daí gastamos uns 150, 200 pila em cocaína. Cheirei lá na festa mesmo. E assim começou. Sabe, meu pai era traficante, daí puxou tudo aquilo. Sempre foi mais fácil conseguir a droga. Meu pai morreu na cadeia. Agora meu padrasto tá preso por tráfico. Tem meus tios que são traficantes, meu primo, os namorados das minhas irmãs... Então, tudo vem dessa convivência. O crack eu conheci quando tive uma briga feia com a minha mãe. Fui lá pro meu primo, daí ele pediu se eu queria experimentar alguma coisa mais forte. Daí eu tava chorando, tava muito nervosa e falei: ‘vô me jogar de vez’. Daí eu experimentei. Nossa! Tu fica muito louco, a sensação é de que todos os problemas somem. Mas aí, depois que passa, vem a frustração. Tu lembra que tu vendeu tuas coisas pra fumar. Nossa! Daí, sabe o que tu faz? Vai lá, vende mais uma coisa e fuma para esquecer disso. E assim tu vai indo até um ponto em que tu não tem mais nada, ninguém mais confia em ti. É tu e tu. Não tem essa de fumar uma pedra só. Tu passa dois, três dias dando estouros (fumando). Uma vez me prostitui por R$ 50 pra comprar crack. O problema não é só a droga, o problema é... ai, esqueci a palavra, como é... a, sim, o comportamento. O problema é o comportamento que faz usar droga. Já fiquei internada ano passado. Mas quem é que, na minha idade, vai querer ficar sem rádio, sem música, sem festa, sem namorar, sem nada? Imagina! Eu fugi. Agora tô grávida e minha mãe me largou de mão. Daí eu pensei que não quero dar pro meu filho a vida que eu levo. Tô começando tratamento e quero sair de cara limpa. Todas as manhãs me prometo: ‘só por hoje não vou usar droga’.
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